terça-feira, 26 de junho de 2012

Friamente.

Sorriu friamente ao vê-la. Esqueceu do tempo de outrora, em que via seu coração inflamado em brasa sempre que a tinha, ou de fronte a si ou em devaneios, meros; do tempo em que os lábios eram mordiscados entre pequenos lampejos de tímidos sorrisos que escapavam entre olhadelas desconfiadas, sondando se sim ou se não, mas com ânsia infame pelo sim esperado, porém incerto. Depois de uma fração de segundo interminável, na qual o vislumbre do crepúsculo obscuro, distante, ecoou, o esperado que vinha embalado por tristes verões em outono seco, delirante, foi duramente esmagado pelo ocre sabor de um amor infundado. Tornou, aos espasmos em devaneio intrínseco do eterno que se esvai, a pensar o que seria se o destino lhes tivesse mostrado vigor, sem escárnio, de um corpo em desequilíbrio. Embriagado pela náusea causticante do remontar límpido do destino que se vai, não consumado, novamente, em sem saber como, volta a si, triunfante. Atônito sobre o elo imaginado de um tempo sonhado que ainda se esvai, acabou...

e...

sorriu friamente ao vê-la.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sim, quem sou...


"Sob o manto da noite que me cobre
Negro como as profundezas de um pólo a outro
Eu agradeço a todos os deuses
Por minha alma invencível.
Nas garras ferozes das circunstâncias
Não me encolhi, nem derramei meu pranto
Golpeado pelo destino
Minha cabeça sangra, mas não se curva.
Longe deste lugar de ira e lágrimas
Só assoma o horror das sombras
Ainda assim, a ameaça dos anos me encontra
E me encontrarão para sempre, destemido
Pouco importa quão estreita seja a porta
Quão profusa em punições seja a lista
Sou o Senhor do meu destino
Sou o Capitão da minha Alma."

De dentro do que ecoa...

Alma vazia. Espera de alguém cansado, frustrado, perdido no tempo da desolação. Queria ele que fosse assim, deveras. O tempo que quis para si, teve: usou e se esqueceu dele. No seu esquecimento, padeceram todos. Seu coração, outrora, encheu-se de algo grande, algo transcendente; o tempo lhe foi cruel, tempo que ele escolheu para si, que ele cultivou para si... depois de tudo, de tudo quanto quis para si e fez para chegar a tal fim, encontrou-se apenas, no fim, com uma certeza, sua alma se foi, está vazia! Alma vazia...

Dois como um.

O sol reluta e oferece seu holocausto diário, intransigente degola o clarão de um dia que passou e abre vezes para o paraíso escuro de um crepúsculo em penumbra. Sincero, volta ao reponte pela manhã e oferece o deslumbrante e constante soerguer de um como os outros, destinados ao ocaso finito de uma noite que passa...
Ela insiste em ficar!
Ele não se incomoda; não se incomoda com ela que fica, dividindo o clarão da jornada que consome o esmo para depois voltar a esconder-se no fim do que para uns é o começo que agora serviu de fim.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Indiferença simples.

Ergueram-se e foram ter com ela. Precisavam que fosse rápido, tinham que voltar aos tronos de suas vidas. Ergueram-se e foram. E lá, tiveram com ela e digladiaram entre si; antes de retornar, às pressas, voltaram a ter com ela; acabaram frustrados, ela lhes deu as costas indiferente. Voltaram a seus tronos, petrificaram quando voltaram a se sentar, frustrados; enrijeceram suas vidas em seus seguros tronos... A indiferença frustra àqueles que precisam desacomodar e dispensar tempo de suas vidas a um fim acreditado que se torna indiferença difusa. A vida toda, a partir disso, enrijece e jamais será a mesma, tudo afetado e afetando a tudo e a todos circunvizinhos.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Entre si.

O suor era frio e escorria cada vez mais gélido à medida que rumava ao extremo esquecido de um corpo em delírio febril; sombrio e opaco, o olhar vagueava sem rumo, ao léu sem ocaso, na penumbra fustigante e opressora da verdade revelada pela união inebriante de duas peças que se completam...

Sondagem de um vazio esmo.

O quanto aquilo tudo que sonhamos pesa sobre nossos ombros? Incógnita inconsistente de nossos devaneios. Àquilo tudo que um dia pensamos, e agora queremos concretizar, some-se uma grande experiência temporal agregada pela vivência cotidiana de duas vidas que nunca se encontraram, mas que sabiam ter sido feitas para acabarem juntas.