segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um Século de Migrantes!

Não faz muito que iniciamos um novo século, ainda temos um bom caminho a percorrer até que possamos satisfazer as páginas que ilustrarão os primeiros cem anos do segundo milênio...
Pois bem; sou muito cético e, das poucas coisas que acredito serem determinantes em nossa história de mundo, algumas me intrigam profundamente, e estas são as que dizem respeito a nós, homens que vivem debaixo do sol e que tem uma história, mesmo que curta, para contar depois de algumas poucas experiências enquanto conscientes.
Há algo de errado nesse nosso século vinte e um!
Não é possível que não haja!
Nunca nas páginas que nos são conhecidas da nossa história se presenciou algo como o que estamos "aplaudindo" como sendo normal e até, bem, e até "gracioso", no palco da existência.
Vivemos, dramaticamente, em um século excluso, em um tempo em que se permitem barbáries em nome de sei lá o quê; um tempo hipócrita que se projetam afirmações acreditadas como bem fundamentadas, mas que na verdade se amparam na grosseirisse de nossas mais mesquinhas fraquezas. Estamos aplaudindo um tempo em que roubar nunca foi tão gracioso desde Robin Hood... Um tempo que a vida dos pequenos nunca foi tão vulgar desde Herodes... Um tempo em que tudo parece se resumir na vontade de uns poucos acreditados como senhores da Terra... Um tempo em que nos acostumamos a migrar, sim, migrar de uma situação que não está dando certo para uma que talvez venha a dar e se não der, migramos de novo, e de novo...
Nunca fomos tão condicionados, tão, brutalmente, manipulados... Sim, porque quando o fomos como escravos era pela força, agora é porque queremos e permitimos... permitimos quando dizemos sim ao sistema, quando não nos mobilizamos por uma causa justa, seja ela de cunho pessoal ou comunitário; perdemos a essência daquilo que de fato somos... Fomos feitos fantoches nas mãos sujas de poucos "artistas" aplaudidos por nós mesmos...
Aprendemos, não sei como nem por herança de quem, que quando a coisa não está mais legal, mudamos... Mas não o sistema, a nós mesmos, a nossa vida, e tudo ao nosso redor, fica na mesma basbaquice que está... Não lutamos mais para mudar a situação daquilo que está a nosso serviço, lutamos bravamente para migrar, mudar aquilo que pensamos e aquilo que somos, aquilo que acreditamos, os nossos valores e potencialidades, lutamos para mudar nosso pensamento e nossos sentimentos, lutamos para não permitir que nossos olhos se ceguem ao ver o escárnio que se nos apresenta diariamente... Somos pútridos migrantes de nós mesmos...
Não estou mais feliz com minha igreja, com minha religião, já não lutamos mais por uma mudança de concepção grupal, por uma renovação que venha do núcleo, não, saímos porta a fora em busca, sedenta, por outra que me agrade, por outro "estabelecimento" que esteja vendendo o produto que busco. Lastimável!
Não estando mais feliz com a qualidade da política do país, não saio mais às ruas, pinto minha cara, e esbravejo a todos quanto ouvirem o que penso e o que quero mudar, sabendo tudo o que pode ser melhor para todos, não, vendo meu voto e mudo toda a minha moral, migro para um porão escuro, um local remoto, onde ética e cidadania não aparecem no vazio da escuridão. Vergonhoso!
Não estando mais feliz com tudo o que vejo nas ruas, nas pessoas, nos jovens, não me envolvo em tentar ajudar estas pessoas, trabalhar para erradicar a solidão, para alegrar as pessoas, para fazer do mundo um lugar melhor, para alegrar o dia com um sorriso, não, luto para sobreviver nesse mormaço sem fim, luto para não sufocar e, se necessário for, sufoco a quem seja, contanto que eu viva; migro de um horizonte a outro em busca de paz, uma paz que ecoa dentro do vazio de um coração que, de tanto migrar de situação em situação, já não sente mais. Impacta!
Não estando mais feliz com o aspecto cinzento da sociedade, de uma sociedade morta e matando, não busco flores, não busco balões, não sorrio para as crianças e não quero que sorriam para mim, não, eu não quero que tudo se torne belo novamente, eu migro, eu desisto de tudo isso e migro para uma consciência opaca, cinza, condiciono aquilo que sou para não ter o trabalho de precisar fazer algo, para não "sujar" minhas mãos com a terra da beleza, do verde, da vida... Migro para algo que não sei dizer, fazer, sentir... Depressão!
Não estou mais feliz com o mundo, com as pessoas, com a natureza, com Deus... não estou mais feliz comigo, com você, com ele e com ela... não estou mais feliz com as crianças, com os cachorrinhos, com o padeiro e os velhinhos... não estou mais feliz com a vida, não estou mais feliz com nada... MIGRO! erradico as os velhinhos condenando-os a morrerem na solidão de um frio asilo, erradico os cachorrinhos e todos os animais maltratando e matando a todos, sem dó... erradico as crianças, as pequenas criancinhas, matando a todas, desde o ventre de suas mamães... erradico Deus de mim, mato a ele e a tudo o que acredita dentro de mim, acabo com as pessoas e com tudo o que me cerca... não admito que nada prevaleça... Migro, mato aquilo que sou e aquilo que fui, em nome de algo que não tenho coragem de ser...
Vivo em um século que está apenas começando e não posso, com isso, projetar como será o amanhã... vivo em um século de migrantes, porque migrar é mais fácil...


88:.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Dar-se inteiramente é muito mais que desejar o bem do outro.

Às vezes pensamos que muito do que fazemos de fato o fazemos para os outros e que somos boas pessoas porque nos preocupamos com as pessoas que passam fome e que padecem pela "ironia do destino" e as ajudamos com o pouco imperceptível que fazemos; não acredito nesse pressuposto! E muito menos naquele que reza sobre a falsa e imoral imagem que digladia diariamente com o que de fato somos: personagens em seu maior papel, esforçando-se ao seu máximo para convencer o próprio coração de uma mentira que inventamos para confundir a moral e a ética que, aos soluços, tentam respirar dentro do sufocante poluído universo que é a nossa consciência.

O que o mundo presencia hoje, além de alarmante, chocante, imoral, estúpido e devastador, é culpa nossa. Penso que muito daquilo que nós acreditamos ser possível e pregamos como possíveis mudanças, que talhariam novamente o panorama da existência que sonhamos, cai completamente por terra quando deparado e comparado com os movimentos que executamos para tal feito. Nossos braços movem-se aquém da nossa mente que, por sua vez, já nem sabe mais o que venha a ser nosso coração. A disparidade de nossas ações, se tivéssemos plena consciência delas, nos assustariam mais que a real situação.

E o que fazer para mudar tudo isso? Acho que os tempos já não nos pedem para citar incontáveis nomes de celebridades que fizeram de suas vidas uma enorme ação em prol, não, não precisamos mais disso, já sabemos de tudo o que precisamos saber para tecer uma ideia e um ideal que nos impulsionem, pelo menos em tese, a um movimento maior que o real; sabemos de tudo e nos fazemos de analfabetos.

O que precisamos é de pessoas que não se importem com nada, absolutamente nada, e isso envolve a própria pessoa, o seu ser e a sua vida. Acredito em um mundo de pessoas do mundo, que doam, na integridade do ser, toda a sua existência para algo que acreditam ser maior e, quem sabe, melhor para tantos. Do que precisamos? Sim, seres que não mais se importem com jornais, revistas, televisão, YouTube, orkut, facebook..., precisamos de pessoas que se preocupem com pessoas e nada mais, e que essa preocupação os faça esquecer de tudo e de todos para que para todos sejam tudo. Não precisamos de nada mais que o mais simples que o homem pode oferecer, a integridade do seu ser com o que ela tem de mais honroso, a pura disponibilidade e inclinação para o bem.

Tudo aquilo que sonhou o homem, que sonha o homem que passa fome, que morre na miserabilidade de sua situação, seja ela qual for, não espera nada mais que o mínimo. Não fomos feitos para o mínimo, nossa busca é comprometida com o máximo que podemos ser; pois bem, então porque, quando se fala na radicalidade da entrega e do trabalho, nos calamos e fazemos de conta que nada mais conta?

Sejamos fortes e nada mais, sinceros com aquilo que somos e pensamos ser, com o que sentimos e fazemos: o mundo não vai mudar, as pessoas vão continuar morrendo e matando, passando fome e jogando comigo fora, poluindo e deixando poluir, roubando e prostituindo, abortando e viciando...

Tudo vai continuar como está porque nós vamos ser como somos até que não aguentemos mais, e isso só vai acontecer quando respingar em nós aquilo que jogamos nos outros...

Não basta querer o bem, não basta rezar um Pai-Nosso e achar que tudo pode mudar... que tudo vai mudar!

Precisamos dar, doar, ser e acontecer...


É muito mais...

.: 88 :.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Você quer?

É preciso correr riscos dizia ele. Só entendemos o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça... Todos os dias, Deus nos dá junto com o sol, um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes... Todos os dias preferimos fingir que esse momento não é possível, que ele não existe, que o hoje será igual o ontem que será igual o amanhã... Mas, quem presta atenção ao seu redor descobre o instante mágico. Ele pode estar escondido na hora em que colocamos a chave na porta pela manhã, no instante de silêncio após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Este momento existe, um momento em que todas as forças de Deus passam por nós, e nos permitem fazer milagres... A felicidade é uma bênção, mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia nos ajuda... E só...


.: 88 :.

Você

E você, que há tantos me disse o que há muito queria ouvir... Obrigado! Perdi a vez em que a vez de não perder passou por mim e eu simplesmente deixei para outra vez... Porém, lembro-me com o que você se parece, e sobre minha face repousa o nobre pensamento que em minha mente insistiu logo na primeira vez que a vi; e eram tantas as vezes que me olhava... eram tão poucas as que podia me ver... ver minha alma... e, se a visse saberia o que dizer, sobre o que eu, por todos os tempos que passaram, não disse... plasmei em mim, naquele espaço que sobra no coração de quem amou, o semblante que não penso em deixar esqeucer o coração e a mente, para que sempre quando quiser, possa eu preencher novamente o lugar, o espaço que foi reservado para somente algo, que só assim podem, de fato, sumir... para que possa meu coração, sozinho, viver!

.: 88 :.

De tantas as vezes que me olhas, são tão poucas as vezes que podes me ver, ver minha alma, aquilo que sou...


"Pares de olhos tão profundos, que amargam as pessoas que fitar... Mas que bebem sua vida, sua alma, na altura que mandar... São os olhos, são as asas, [...]



.: 88 :.

É preciso...

Custa tanto ser uma pessoa plena, que muito poucos são aqueles que têm a luz ou a coragem de pagar o preço...

É preciso abandonar por completo a busca por segurança e correr o risco de viver com os dois braços.


É preciso abraçar o mundo como um amante.


É preciso aceitar a dor como uma condição da existência.


É preciso cortejar a dúvida e a escuridão como preço do conhecimento.


É preciso ter uma vontade obstinada no conflito, mas também uma capacidade de aceitação total de cada consequência do viver e do morrer.


Morris West
.: 88 :.

Coloque cor na "harmônica" "roda" da sua vida... não a faça nem a deixe na inutilidade do vácuo sem orientação...


.: 88 :.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O poste que "mija" no cachorro! :.



Com as devidas desculpas e declarações faço aqui certo "plágio" do artigo de Mônica Monasterio, de Madri; acredito que o mundo ainda não está perdido e muito daquilo que somos deriva daquilo que fomos ou nos fizeram ser, porém, muito do que somos somente o somos por nossa culpa e imaturidade frente a alguns posicionamentos que a vida nos coloca. Sei que estamos em tempos em que, inacreditavelmente e catastroficamente, é normal o "poste 'mijar' no cahorro"...

Ei-lo:
Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos os erros de nossos pais. E com o esforço de abolir os abusos dos passado, somos os pais mais dedicados e compreensivos, mas, por outro lado, os mais bobos e inseguros que já houve na história. O grave é que estamos lidando com pessoas mais "espertas", ousadas, agressivas e poderosas do que nunca. Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ter, passamos de um extremo a outro. Assim, somos a última geração de filhos que obedecem a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos. Os últimos que tiveram medo dos pais e os primeiros que temem os filhos. Os últimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que aceitam que os filhos lhes faltem com o respeito. Na medida em que o permissivo substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudaram de forma radical, para o bem e para o mal. Com efeito, antes se consideravam bons pais, aqueles cujos filhos se comportavam bem, obedeciam as suas ordens e os tratavam com o devido respeito. E bons filhos, as crianças que eram formais e veneravam seus pais. Mas, na medida em que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram-se desvanecendo, hoje, os bons pais são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, e, ainda que pouco, os respeitem. E são os filhos quem, agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem as suas ideias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver. E, além disso, os patrocinem no que necessitarem para tal fim. Quer dizer, os papeis se inverteram, e agora são os pais quem têm de agradar a seus filhos para ganhá-los e não o inverso, como no passado. Isto explica o esforço que fazem hoje tantos pais e mães para serem os melhores amigos e "tudo dar" a seus filhos. Dizem que os extremos se atraem. Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo ao nos ver tão débeis e perdidos como eles. Os filhos precisam perceber que, durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter e de guiá-los enquanto não sabem para onde vão. Se o autoritarismo suplanta, a permissividade sufoca. Apenas uma atitude firme e respeitosa lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas porque vamos à frente liderando-os e não atrás, os carregando e rendidos à sua vontade. É assim que evitaremos o afogamento das novas gerações no descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino. Os limites abrigam o indivíduo, com amor ilimitado e profundo respeito. "assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos".


88:.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Versus :.

De A.J.C., e nada mais...
- A morte é cruel.
Digladia com intelectuais e os torna meninos.
Debate com ateus e os transforma em tímidas crianças.
Guerreia contra generais e os torna frágeis combatentes.
Batalha com milionários e os sepulta na lama da miserabilidade.
Duela contra celebridades e as faz beijar a lona da insignificância.
A vida sempre nos dá outras oportunidades, a morte nunca.

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De A.J.C., e nada mais...

- Por que Te calas quando as crianças morrem soterradas em terremotos? Por que silencias quando a fome comprime seus magérimos corpos? Por que não ages quando nos acidentes asfixiam-lhes os pulmões e estancam-lhes o fôlego de vida? Ou ages e não ficamos sabendo? Ou acolhe em Teu peito, no seio da eternidade, quando seus pequenos corações deixam de pulsar e não nos contas? Se amas, sofres; se sofres, por que optas pelo silêncio? Teu silêncio sustentou por anos meu cético ateísmo! Choras nas próprias lágrimas das crianças? Tremulas na angústia inexprimível dos pais que perderam seus filhos? [...] Estou só, profundamente só. Tento Te esquecer, mas ocupas a pauta da minha mente.
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Desconhecido :.

De F.N., e nada mais...

Antes de prosseguir o meu caminho e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo essas palavras: "Ao Deus desconhecido".
Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servir-Te.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que penetras a alma e, qual turbilhão, invades minha vida.
Tu, oh incompreensível, mas meu semelhante, eu quero Te conhecer.

.: 88 :.