sábado, 24 de abril de 2010

O Segredo é Saber como Morrer :.

De D. B., e nada a mais...

O TEMPO É UM RIO... E OS LIVROS SÃO BARCOS. MUITOS VOLUMES NAVEGAM POR ESSAS ÁGUAS E ACABAM NAUFRAGADOS E IRREMEDIAVELMENTE PERDIDOS EM SUAS AREIAS. POUQUÍSSIMOS SÃO AQUELES QUE SUPORTAM OS RIGORES DO TEMPO E VIVEM PARA ABENÇOAR AS ÉPOCAS FUTURAS.

"Eu estou olhando para mim mesmo, uma ruína de carne ensangüentada sobre a plataforma sagrada de mármore. Meu
pai está ajoelhado atrás de mim, segurando minha cabeça sem vida com a única mão que lhe resta.
Sinto uma onda crescente de raiva... e de confusão.
A hora não é de compaixão... mas de vingança, de transformação... porém, mesmo assim, meu pai se recusa a ceder, a cumprir seu papel, a canalizar sua dor e sua raiva para a lâmina da faca e cravá-la no meu coração.
Estou amarrado aqui, suspenso... preso à minha casca terrena.
Meu pai passa suavemente a palma da mão pelo meu rosto para fechar meus olhos que se apagam.
Sinto as amarras se soltarem.
Um véu esvoaçante se materializa à minha volta, tornando-se mais espesso e fazendo a luz diminuir, escondendo o mundo de mim. De repente, o tempo se acelera e estou mergulhando em um abismo muito mais escuro do que algum dia pude imaginar. Ali, dentro de um vazio estéril, ouço um sussurro... sinto uma força se acumular. Ela vai ficando mais potente, crescendo a uma velocidade espantosa, me rodeando. Assustadora e poderosa. Sombria e imponente.
Eu não estou sozinho aqui.
Este é meu triunfo, minha grande recepção. No entanto, por algum motivo, sinto-me cheio não de alegria, mas de um medo sem limites.
É totalmente diferente do que eu esperava.
A força então se agita, rodopiando ao meu redor com uma potência irrefreável, ameaçando me partir ao meio. De repente, sem aviso, as trevas se adensam como uma grande fera pré-histórica, empinando-se à minha frente.
Estou diante de todas as almas obscuras que me precederam.
Estou gritando com um terror sem fim... enquanto a escuridão me devora por inteiro".
O segredo é saber como morrer!
88 :.

domingo, 18 de abril de 2010

Ciclotrimetilenotrinitramina 88 :.

Muitas noites, enquanto você dormia, eu passeava, escutava o choro das crianças recém-nascidas , as cantigas dos homens que tinham bebido depois do trabalho, os passos firmes do Sentinela em cima da muralha. Quantas vezes eu já vira aquela paisagem e não reparara como era bela? Quantas vezes olhara para o céu, sem notar que era profundo? Quantas vezes escutara os ruídos à minha volta, sem perceber que faziam parte da minha vida?
O vento do desero, há muito tempo, já apagou nossos passos na areia. Mas, a cada segundo de minha existência, eu relembro o que aconteceu, e você continua caminhando nos meus sonhos e na minha realidade. Obrigado por ter cruzado meu caminho.
O espírito humano anseia por dominar seu invólucro carnal.
Sonho no escuro e nada parece satisfazer meu escárnio voraz. Tudo sempre caminhou rumo a não sei o quê. Tudo foi sempre tão sufocado que nada parecia ser certo e nem tendia para tal.
Vivemos dias em que tudo faz sentido e nada parece esatr programado.
Por mais que tentemos, nossos esforços são inúteis frente a tudo o que nos cerca.
Somos, por todos os lados possíveis de se imaginar, alvejados por não se sabe o que. Estamos perdidos, totalmente perdidos.
[...]
"Quando saímos do útero materno e penetramos no útero social, choramos! Quando saímos do útero social e penetramos no útero de um túmulo, outros choram por nós! Na saída e na entrada da vida, as lágrimas irrigam nossa história!"
"As lágrimas na entrada e despedida da vida revelam que a existência é o show dos shows, o espetáculo dos espetáculos, pautada por inumeráveis emoções. Drama e comédia se alternam. Brisa e tempestade, saúde e doença, são privilégios dos vivos. Das crianças aos idosos, dos ocidentais aos asiáticos, todos enfim, experimentam, no script desse espetáculo, em maior ou em menor escala, a brisa do êxito e a trama da derrota, o sabor da fidelidade e o paladar da traição, a textura do alívio e a contingência da dor.
A vida é um show, e por trás de um ator ou atriz que falha, há sempre uma pessoa machucada nos bastidores".
[...]
Se as ideias são tão fortes para construir armas, deverão ser fortes o suficiente para encontrar soluções que não nos levem a usá-las. Mas, uma vez construídas, as armas voltam-se contra as ideias, diminuem sua criatividade. A criatura destrói o criador.
Nos comportamentos domos distintos, ms os fenômenos que nos tornam a espécie Homo Sapiens são exatamente os mesmos entre juízes e réus, promotores e criminosos.
[...]
As ideias são sementes e o maior favor que se pode fazer a uma semente é enterrá-la.
Encenamos nossa história como atores eternos no teatro do tempo e subitamente encerramos a peça como se não tivemssemos atuado. Em algumas coasiões, falamos dEle, talvez amparados em alguma premissa alterável ou em dados de saber sociológico, político, psicológico, linguístico, em vez de fazer derivar os critérios básicos de nossa vida e atitude de um evangelho vivo com integridade, com a grande confiança e esperança que encerra a Cruz de Cristo.


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